Doenças autoimunes: O que são?

6. Novembro 2024

As doenças autoimunes, ou doenças imunomediadas, são doenças que resultam de um mau funcionamento do sistema imunitário.

O sistema imunitário é um sistema complexo, constituído por vários tipos de células, como os glóbulos brancos, que podem circular livremente no sangue ou residir num tecido específico, como a mucosa do intestino ou a pele. Para além disto, fazem parte do sistema imunitário várias estruturas organizadas, como os gânglios linfáticos, e órgãos, como o timo e o baço.

Em condições normais, o sistema imunitário é capaz de identificar e eliminar “substâncias” que reconhece como estranhas e, portanto, como potenciais ameaças à integridade do organismo. Esta capacidade faz com que seja responsável pela defesa do organismo contra infeções, corpos estranhos e até contra o desenvolvimento de cancro. É graças a uma vigilância constante e a várias “batalhas microscópicas” que nos podemos dar ao luxo de viver num mundo preenchido por bactérias, vírus, fungos e outros seres vivos.

O que pode acontecer se, por algum motivo, o nosso sistema imunitário não funcionar bem? Pode deixar de cumprir tão bem a sua função de defesa do organismo. Se por um lado, o sistema imune pode deixar de “atacar” de forma tão eficaz microorganismos como os vírus e as bactérias. Por outro, pode passar a “confundir” as nossas células com agentes invasores e passar a atacá-las. Este ataque ao próprio é o que significa autoimunidade.

O que são doenças autoimunes?

Como o próprio nome indica, as doenças autoimunes correspondem às doenças do sistema imune que se manifestam sobretudo por fenómenos de autoimunidade. A autoimunidade acontece quando há uma falha do sistema imunológico, que passa a reconhecer moléculas, células, tecidos e órgãos do próprio como “estranhos”. Tal como faz com as bactérias ou os vírus, o sistema imunitário inicia uma série de “batalhas microscópicas” com o objetivo de eliminar ou neutralizar esses ”invasores”. As doenças autoimunes podem ser específicas de órgão ou sistémicas, consoante o atingimento da doença seja limitado a um único órgão ou a vários, respetivamente. A tiroidite de Hashimoto é um exemplo de uma doença autoimune específica de órgão, enquanto que o lúpus eritematoso sistémico é considerado uma doença imunomediada sistémica.

O que está na origem da maioria das doenças autoimunes?

Não se conhece a causa exata das maioria das doenças autoimunes. A causa da maioria das doenças autoimunes é provavelmente multifatorial e, como tal, relacionada com fatores genéticos e ambientais. Sabe-se, por exemplo, que a exposição a determinadas infeções virais pode levar ao desenvolvimento de doenças autoimunes em indivíduos geneticamente predispostos. É o caso da infeção pelo vírus Epstein-Barr (vulgo, Mononucleose Infecciosa) e a Esclerose Múltipla (EM). A EM é uma doença autoimune específica de órgão, em que o sistema imune “combate” o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal). Em 2022, um estudo demonstrou que o risco de EM é muito baixo em indivíduos que nunca foram infectados pelo vírus Epstein-Barr (EBV) e que este risco aumenta 30 vezes após haver uma infeção pelo vírus1.

Como têm evoluído as doenças autoimunes ao longo do tempo?

Nas últimas décadas, a prevalência da maioria das doenças autoimunes tem vindo progressivamente a aumentar. Estima-se que o aumento anual da prevalência e da incidência de doenças autoimunes a nível global seja de 12.5% e 19.1%, respetivamente2. Os motivos que podem justificar esta evolução não estão ainda totalmente esclarecidos mas vários estudos apontam fatores ambientais como a poluição do ar, o contacto com xenobióticos, infeções, stress crónico e estilos de vida que favorecem o sedentarismo e o excesso de peso, como fatores que podem contribuir para este aumento.

As doenças autoimunes têm cura?

A maioria das doenças autoimunes não tem cura. No entanto, hoje em dia, existem tratamentos muito eficazes no controlo dos sintomas e na prevenção das consequências associadas à inflamação crónica. O tratamento frequentemente inclui fármacos imunossupressores (como os corticóides), que ajudam a controlar a hiperatividade do sistema imune, e medicamentos biológicos, que bloqueiam vias celulares específicas de cada doença. Para além disto, modificações do estilo de vida, como exercício físico regular e uma dieta equilibrada, são indispensáveis para uma melhoria global do estado de saúde.

Viver com uma doença autoimune

O diagnóstico de uma doença autoimune pode ser assustador mas, hoje em dia, não tem de significar diminuição da qualidade de vida. O avanço da Medicina, nomeadamente das terapêuticas biológicas, tem permitido uma melhoria muito significativa dos sintomas e a prevenção das consequências que antigamente se associavam à evolução natural das doenças autoimunes.

Quanto mais conhecimento tiver acerca da sua doença e maior consciência tiver acerca dos seus sintomas e da sua evolução ao longo do tempo, mais capacitado(a) estará para gerir de forma proativa a sua condição. Uma aplicação como a Chrono Health pode ser um excelente aliado nesta jornada, ao constituir um verdadeiro companheiro de saúde onde sabe que encontrará toda a informação necessária ao seu sucesso.

Referências:

Bjornevik, K., Münz, C., Cohen, J.I. et al. Epstein–Barr virus as a leading cause of multiple sclerosis: mechanisms and implications. Nat Rev Neurol 19, 160–171 (2023).
Miller FW. The increasing prevalence of autoimmunity and autoimmune diseases: an urgent call to action for improved understanding, diagnosis, treatment, and prevention. Curr Opin Immunol. 2023 Feb;80:102266.